Ameaça da sombria milícia marítima da China
- Redação OE
- 20 de fev.
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Por: Redação OE

Aparentemente, eles navegam em águas internacionais, fingindo ser uma frota pesqueira, mas, na realidade, essa força de embarcações opera ao lado das forças armadas da China, para promover os objetivos políticos de Pequim. Trata-se da milícia marítima da China, uma armada sombria, cuja existência é negada pela China.
“A China emprega sua milícia marítima como uma força paramilitar”, disse à Diálogo Raymond Powell, diretor do SeaLight, um projeto de transparência marítima do Centro do Nó Górdio para Inovação em Segurança Nacional da Universidade de Stanford. “Embora se façam passar por embarcações pesqueiras, eles geralmente não pescam, mas participam de manobras agressivas contra embarcações de outros países, com ataques em grupo, bloqueios e abalroamentos, em estreita coordenação com a Guarda Costeira chinesa.”
Embora a milícia marítima da China, também conhecida como Milícia Marítima das Forças Armadas do Povo (PAFMM), atue principalmente no Mar do Sul da China, como parte dos esforços de Pequim para exercer suas reivindicações territoriais, os especialistas expressaram sua preocupação com sua possível presença na América Latina, devido às ações descaradas, ilegais e destrutivas de sua frota pesqueira de grande escala na região.
“Vários relatórios internacionais […] denunciaram repetidamente como as embarcações chinesas envolvidas na pesca ilegal não apenas pescam, mas representam uma força naval opaca usada diretamente pelo governo de Pequim”, informou o site de notícias argentino Infobae.
Em agosto de 2022, o navio James da Guarda Costeira dos EUA, que estava realizando uma patrulha conjunta com a Marinha do Equador ao largo das Ilhas Galápagos, para inspecionar se havia sinais de pesca ilegal de barcos chineses dedicados à pesca de lula, teve que tomar medidas evasivas para evitar ser abalroado por uma embarcação chinesa que se virou agressivamente em sua direção, enquanto dois outros barcos chineses se afastavam em alta velocidade para escapar, informou então AP.
“O confronto em alto-mar representa uma violação potencialmente perigosa do protocolo marítimo internacional”, declarou AP.
Zona cinzenta
O primeiro uso de milícias pesqueiras no Mar do Sul da China pela República Popular da China (RPC) remonta à década de 1970 e, desde então, tem desempenhado um papel central na afirmação das reivindicações de Pequim na região, indicou em um relatório o think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).
Atualmente, os especialistas acreditam que a PAFMM poderia ter acesso a centenas de milhares de embarcações pesqueiras de todos os tamanhos, algumas equipadas com armamento fixo, embora o objetivo da milícia seja “vencer sem lutar, esmagando o adversário com enxames de embarcações pesqueiras”, afirmou Derek Grossman, analista sênior de defesa do think tank RAND, em um relatório.
A vigilância, o assédio, os ataques e o uso de mangueiras de água de alta pressão contra embarcações estrangeiras, além de aumentar as tensões, são algumas das táticas usadas pela PAFMM.
Os investigadores Shuxian Luo e Jonathan Panter, da Universidade John Hopkins e da Universidade de Columbia, respectivamente, escreveram em um relatório que parte da força da milícia se baseia em sua capacidade de negação, que permite que suas embarcações assediem e intimidem navios estrangeiros, ao mesmo tempo em que permite que a China negue estar afiliada a essas atividades. Isso também permite que a China exerça pressão e coaja nações que poderiam temer provocar a RPC.
“Como a China afirma que não se trata de embarcações militares, ela pode alegar que qualquer ação contra elas por parte de marinhas ou guarda-costas estrangeiros constituiria um ataque a civis chineses”, informou a CNN.
Embora haja uma conscientização global sobre o crescimento dessa milícia e o papel que ela desempenha nas operações da China, não há detalhes precisos sobre o tamanho ou a composição da frota.
“Algumas dessas embarcações são financiadas diretamente pelo governo chinês”, disse Powell. “Outras pertencem a empresas privadas que recebem subsídios do governo, para ajudar a reforçar a presença da China em águas distantes.”
Outra tática empregada por essas embarcações é conhecida como rafting (balseiros), que envolve amarrar várias embarcações por âncora, para criar postos avançados flutuantes semipermanentes, que são difíceis de dispersar devido ao seu volume coletivo. Essas formações possibilitam estabelecer um controle sobre zonas específicas, evitar a militarização ostensiva da região e complicar as respostas diplomáticas. Sua vantagem está na sua ambiguidade legal, indica SeaLight.
“A China tem aspirações geopolíticas que contradizem as estruturas legais. Eles não parecem se importar muito”, explicou à Diálogo María Isabel Puerta, professora adjunta de Ciências Políticas da Universidade de Valencia, em Orlando, Flórida. “É uma forma de mascarar a pressão exercida pela China. Tem a ver com o reconhecimento de que existe uma ordem jurídica que eles pretendem contornar. Então, utilizam esses navios como anteparo, porque está claro que estão trabalhando em coordenação.”
A China demonstrou como, por meio do uso de sua milícia marítima, ignora a soberania de seus vizinhos, viola o direito internacional e usurpa pontos estratégicos para exercer influência política, econômica e militar”, afirmou Haroro Ingram, diretor para as Filipinas do Instituto da Paz dos EUA, em um artigo de opinião publicado em 11 de dezembro para a plataforma de relações exteriores War on the Rocks. “Seu expansionismo agressivo, suas campanhas de intimidação e sua ocupação de águas ricas em recursos ameaçam não apenas a segurança da área do Indo-Pacífico, mas também a segurança global.”
Fonte e Imagem: Revista Diálogo Américas
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